Embalada pela a música apoteótica de Gonzaguinha, Amor de Mãe estréia na Globo mostrando a que veio.
A institucionalização da figura materna nos lares brasileiros é o abre-alas da nova novela da estreante autora Manoela Dias. Com um texto afiado e direção esplendorosa de José Luiz Villamarim empolga o público com uma trama de cunho popular, porém melodramática.
Apesar de ser reconhecida como autora primorosa com a minissérie adaptada "Ligações Perigosas", foi desde o final da minissérie Justiça, em setembro de 2016, Manu Dias começou a ser vista com bons olhos por Sílvio de Abreu e pela a crítica especializada. Apesar de ser considerada "novata", a emissora tratou de imediatamente investir nas habilidades de escrita da mesma e encomendar uma novela para o horário nobre.
O argumento tinha o título provisório de Tróia, em referência à cidade da Grécia envolveria três mulheres com poder monetário diferentes em meio do Rio de Janeiro atual. Imediatamente, a história foi aprovada e recolocada para estréia no início do primeiro semestre de 2019. No entanto, com a entrega de capítulos, a Globo percebeu que a alta formalidade do texto poderia asustuar os telespectadores da Classe C e, então, a novela toda precisou ser reformulada para um aspecto popular e solar.
O contratado para fazer este serviço ficou nas mãos ao autor Ricardo Linhares que sentou com Manuela para trabalhar em todos os capítulos novamente até chegar em um ponto aceitável, só que essas mudanças necessárias levaram mais tempo previsto e a novela começou a atrasar na produção. A resposta para isso se deu ao contratar Walcyr Carrasco para substituir às pressas "O Sétimo Guardião". Aparentemente, o tempo foi como vinho para Manuela: Ficou cada vez melhor.
Ontem, dia 25, foi ao ar o primeiro capítulo que cruza as história da nordestina forte Lurdes (Regina Casé), a imponente advogada Vitória (Taís Araújo) e a frágil, porém corajosa Thelma (Adriana Esteves). Três mães que fariam qualquer coisa para proteger e amar seu filhos.
A fotografia e a apresentação da novela já mostraram que tudo girará em torno de fortes emoções e escolhas que podem mudar a vida das personagens para melhor ou pior. Para Lurdes, encontrar eu filho vendido, Domêncio, é sua fé. Para Vitória, ser mãe é sua maior ambição. Para Thelma, cuidar de seu filho Danilo, a todo custo, é sua esperança.
O primeiro capítulo já registrou bons números no Ibope. A estreia fechou com picos de 34.8 pontos, algo não visto desde o capítulo inicial de Segundo Sol, de João Emanuel Carneiro.
Manuela Dias é a maior promessa da Globo para a próxima década. Se os próximos capítulos forem do mesmo nível do que no foi apresentado ontem, com certeza seu espaço aumentará consideravelmente. Vale lembrar, também, que Dias é a primeira autora da teledramaturgia a escrever uma novela para às 21hs sem passar por outros horários. Do lado masculino, esse título pertence à Aguinaldo Silva.
"Quem cultiva a semente do amor, segue em frente e não se apavora. Se na vida encontrar dissabor, vai saber esperar sua hora..."
(Irmã Josiane vendo seus pecados na última cena)
No dia 22/11//2019, a Rede Globo apresentou o último capítulo de seu principal produto "A Dona do Pedaço" com cerca de 1h:45 minutos de duração. O fim representa mais uma meta atingida na vida do autor Walcyr Carrasco, mas também significa uma mancha característica para o autor.
Para começo de conversa, Walcyr Carrasco só voltaria à telinha do "plimplim" em meados de 2021 para a continuação de Verdades Secretas, grande sucesso internacional que ganhou o Emmy de Melhor Telenovela. No entanto, Carrasco foi surpreendido pela a alta cúpula do Setor de teledramaturgia que deveria escrever uma novela para o horário nobre às pressas. O motivo? A novela que substituiria a até então recém estreada "O Sétimo Guardião" teria que ser reformulada em todos os capítulos que foram entregues por ser considerada muito "culta" e "formal" para os telespectadores. A novela em questão seria "Amor de Mãe", que foi adiada para depois da novela escrita por Walcyr.
(Walcyr, surtando internamente, sem fazer a menor ideia como iria conduzir à trama)
Desesperado, o autor não esconde para ninguém que o argumento foi escrito em apenas 15 dias e ainda teve o auxílio de Sílvio de Abreu para definir boa parte das histórias coadjuvantes que agregaram à novela. Inicialmente, a trama intitulada "Dias Felizes" havia uma proposta muito semelhante, assim que a história foi aprovada e divulgada, por outras novelas do horário, como Rainha da Sucata, Vale Tudo e Roque Santeiro. Posteriormente, visando atrair todos os públicos chamar atenção pela a popularidade, o nome provisório foi alterado para "A Dona do Pedaço".
A proposta de uma mulher brasileira de origem simples e humilde com uma tragédia pessoal, ascenderia socialmente através do próprio esforço de maneira totalmente independente não era nada novo na televisão, mas poderia ser promissora a partir da construção da mesma. Aparentemente, a novela estava indo de mal à pior.
(Dona Dulce putassa indo resolver uma treta com os Matheus)
Matadores de aluguéis, brigas entre famílias, morte, sangue, traições, Romeu e Julieta, tudo isso marcou a vida dura da protagonista Maria da Paz Ramirez, que se apaixonou perdidamente por Amadeu Matheus e que foram separados, um pensando que o outro havia morrido. Da Paz segue para São Paulo, grávida, e decide vender bolos que aprendeu com a sua vó para a sobrevivência. Walcyr até tentou inovar e surpreender por ter uma primeira fase com poucos personagens e hitória amarrada. Com grande destaque à Juliana Paes, Rosi Campos, Fernanda Montenegro e Suely Franco, o carisma da novela estava claro que seria algo solar, bem humorado e de esperança. Todavia, todo esse "clima" seria desmitificado com a chegada da segunda fase e, com ela, novos personagens que seriam uma pedra no sapato da inocente e nada perspicaz protagonista brega.
(Xô olhando a fatura do cartão de crédito. Bela psicopata)
Josiane - na sinopse original, ela se chamaria Lourdes -, ou simplesmente Jô (Xô), talvez foi a pior personagem em todas as novelas já escritas por Carrasco. Desde a mudança de fase e o embate inicial com a mãe, já se mostrava o quão vazio e fútil a "vilãzinha" era. Detestava a própria a mãe apenas porque a mesma havia crescido profissionalmente vendendo bolos e, por isso, era vítima de bullying na escola por ser a "filha da boleira" (sério mesmo?). Ao unir-se com um homem mais velho e de família decadente, a filha decidiria - sem nenhum motivo, é importante frisar - enganar a Maria da Paz e roubar centavo por centavo da mesma, colocando-a até mesmo na rua, com uma mão na frente e outra atrás. Para tentar explicar o "ódio" da filha, o autor jogou tudo na conta da psicopatia. Na verdade, o fato óbvio fora o seguinte: Como não encontrou nenhum motivo ou resposta plausível para justificar o mau-caratismo da personagem, decidiu-se fazer uma garota com sérios transtornos psicológicos. Felizmente, o público não engoliu bem essa história.
Outro ponto fraco na novela eram os personagens. Amadeu, interpretado por Marcos Palmeira, era um "mocinho" sonso e inconsciente. Depois que se reencontrou com sua amada Maria, lá pelos os capítulos 10 ou 12, não teve nenhuma boa cena. Era muito comum notar que o personagem mal aparecia e era a mesma coisa de não ter nenhum protagonista masculino na trama, de tão insignificante que foi sua participação do começo até o fim.
(Maria da Paz e Sonodeu se reencontram de uma maneira aleatória)
Vivi Guedes, de Paolla Oliveira, também uma grande decepção. Começando como uma mulher empoderada, moderna, a blogueirinha se apaixonou perdidamente pelo o próprio algoz - que já havia matado mil e uma pessoas - e passou a defendê-lo com unhas e dentes. Nos últimos meses da novela, passou a ser uma mulher submissa para o ex-namorado (esse sim tinha que ser considerado um psicopata), sendo violentada, humilhada e torturada. No fim, beirando o ridículo, Vivi participa da morte do ex, foge de mala e cuía e ainda grava um último vídeo para seu perfil no Instagram dizendo que iria sair de cena.
(Vivi Guedes e seu assassino favorito, Chiclete)
Fabiana, de Natalia Dill, pode ser considerada o único ouro que essa novela teve. Deixada num convento de freiras humilde, despertou sua ambição ao descobrir que sua irmã era rica e estava em São Paulo. Partiu para o Estado visando se aproximar e tentar tomar tudo o que a outra conquistou. Se mostrando uma mulher perigosa, cínica e herege, a personagem sustentou a novela por longos capítulos em suas maldades e, no fim, teve um final o.k. Só ninguém mais aguentava o bordão forçado que Carrasco tentou fazer o telespectador engolir abaixo: "É que eu cresci num convento".
(Ninguém aguenta mais, Fabiana! Basta!)
Poderíamos ficar aqui horas e mais horas achando defeitos em A Dona do Pedaço, mas uma coisa é importante salientar: Apesar de tudo mesmo, a novela teve uma boa repercussão e algumas cenas memoráveis, graças à direção artística não tão questionável de Amora Mautner. Ao menos, conseguiu novamente o feito de reerguer o horário das 21hs, que amargurou por "O Sétimo Guardião". Fechando com 35,98 pontos de média geral (36), Walcyr Carrasco se despede do horário para férias e não ligando para nenhum tipo de comentário negativo sobre a obra que escreveu e voltando agora apenas em 2021 para a tão esperada (ou não) continuação de Verdades Secretas, que, se contar com o mesmo nível de texto que nos foi apresentado nesta novela, talvez o legado dele seja manchado de novo.
A DONA DA SUCATA OU RAINHA DO PEDAÇO?
Semelhanças com outras tramas do horário nobre são referências na novela atual.
Não é a primeira vez que a grande aposta da Rede Globo para superar algum fiasco de audiência em algumas de suas novelas se utiliza o autor Walcyr carrasco para "salvar" o horário. Dessa vez, para superar a queda na audiência de O Sétimo Guardião, de Aguinaldo Silva, A Dona do Pedaço vem dando conta do recado.
No ar desde o dia 20 de maio, a novela das nove vem mantendo o ibope lá em cima e as tramas criadas por Carrasco chegaram às rodas de bate-papo Brasil a fora.
Mas será que a trama da mocinha pobre, que enriquece a custo de muito trabalho duro, tem um amor proibido por família rivais, e uma filha traiçoeira é nova no horário nobre? A história da teledramaturgia mostra que não.
Não é segredo para ninguém que Walcyr sempre reutiliza outras tramas de cunho drámatico, apenas dando uma "repaginada" básica nos temas para que se adeque à época atual. Buscando referências entre obras clássicas da literatura (como A Viúva Alegre, para compor Chocolate com Pimenta), o autor retirava o miolo de cada história e recontava uma sua própria. Isso não é um pecado no meio da teledramartugia, só cultiva a ideia que uma novela não é tão original como uma que foi concebida.
Primeiro destaque que prova isto é a questão da filha com vergonha da mãe, algo que já veio sendo exposto em outras telenovelas antes desta, como por exemplo: A Corrupção e falta de ética davam o norte da novela escrita a três mãos por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères: Vale Tudo (1988). O folhetim denunciava a inversão de valores no Brasil do final dos anos 1980 e parou o país na cena em que foi revelado a verdadeira assassina de Odete Roitman (Beatriz Segall). Na época, os autores centraram a discussão no antagonismo entre mãe e filha: a íntegra Raquel Accioli (Regina Duarte) e o seu oposto, a filha Maria de Fátima (Gloria Pires). Jovem inescrupulosa e com horror à pobreza, a personagem de Pires passa a perna na mãe logo nos primeiros capítulos da novela. Ela vende a única propriedade da família, no Paraná, e foge com o dinheiro para o Rio de Janeiro.
A trama lembra muito a relação entre Maria da Paz e Jô, de A Dona do Pedaço. A jovem vivida por
Aghata Moreira, além de morrer de vergonha do jeito simples e extravagante da mãe, faz de tudo para arrancar dinheiro da ricaça, chegando até o ponto extremo de tomar-lhe a fábrica e colocar, da mesma forma, a mãe na rua da amargura.
A oposição entre os novos-ricos e a elite paulista decadente já era tema de novela da TV Globo no início da década de 1990. Rainha da Sucata, de Silvio
de Abreu, mostrou os preconceitos sofridos por Maria do Carmo (Regina Duarte) — mulher rica, mas que veio de baixo — ao tentar se casar com Edu, um playboy da alta sociedade de São Paulo. Esse roteiro também lembra muito
o de A Dona do Pedaço, já que Maria da Paz, mesmo dona de uma rede de lojas, é recebida com olhares truncados, risadinhas e discriminação por sua origem pobre.
E mais, a cena em que Gladys (Nathalia Timberg) destrata a personagem de Juliana Paes ao saber do casamento com Régis (Reynaldo Gianeccihini), é muito semelhante a alguns episódios em que Laurinha (Glória Menezes) faz de tudo para separar a mocinha do galã decadente Edu (Tony Ramos). A diferença é que, na atual, Gladys é mãe de Régis, já Laurinha era madrasta de Edu.
POR QUE ''O SÉTIMO GUARDIÃO" AMARGUROU O HORÁRIO DAS 21HS DA GLOBO?
"Não existe saudade mais cortante que a de um grande amor ausente. Dura feito um diamante, corta a ilusão da gente"
Nem a célebre música que embalou os corações apaixonados por Murilo Pontes e Pilar Batista de Pedra Sobre Pedra (1992) conseguiu prender o público em "O Sétimo Guardião", novela exibida pela a Rede Globo até o início desse ano.
Serro Azul foi a cidadezinha escolhida pelo o autor Aguinaldo Silva, por ser a morada dos personagens e do gato preto amaldiçoado que defende com, literalmente, unhas e dentes, uma misteriosa fonte com poderes de cura e rejuvenescimento guardada por sete guardiões diferentes que são simplórios moradores da cidade. Serro Azul faz parte do universo ficcional de Silva desde 1992, quando a citava diversas vezes como uma cidade vizinha que ficava ao redor de outras, como a de Resplendor (Pedra Sobre Pedra), Tubiacanga (Fera Ferida), Greenville (A Indomada) e Porto dos Milagres (Porto dos Milagres).
A trama, idealizada desde 2015, fora um projeto muito bem visto pelos os produtores da Globo e com grande expectativa por parte dos fãs do estilo de Silva, tendo em vista que anunciara que a nova novela marcaria sua volta ao realismo fantástico - gênero introduzido na televisão brasileira por Dias Gomes no começo da década de 70 - desde 2001, com sua última novela nesse meio chamada Porto dos Milagres. De lá, pra cá, todas as obras do autor se passavam no Rio de Janeiro urbano.
No entanto, desde 2016 a novela trouxe grande dor de cabeça para o setor de teledramaturgia e para o próprio Silva. A concepção da sinopse original de "O Sétimo Guardião" foi concebida durante uma Master Class de roteiro dada pelo o renomado autor onde contou com 25 alunos. Segundo fontes, todos os alunos ajudaram a desenvolver a ideia da história e seus personagens. Silva afirmou que, se a Globo aprovasse para ser exibida, todos os alunos ganhariam destaque e seriam devidamente creditados. Porém, quando houve a aprovação do roteiro,Aguinaldo fora creditado como único criador da história, o que revoltou alguns alunos ( que sentiram-se enganados pelo o autor) e gerou diversos processos na justiça, envolvendo até a assessoria da emissora e o próprio Silva, pela a disputa da autoria da telenovela.
Em 2017, a trama foi oficialmente engavetada e a emissora pediu um sinopse totalmente original escrita por Aguinaldo Silva. A sinopse intitulada "Enquanto Seu Lobo Não Vem" seria, basicamente, uma releitura do conto infantil "Chapeuzinho vermelho"e envolveriam lobos de verdade na ideia. No entanto, se comparada com a sinopse engavetada, a Globo voltou atrás e decidiu que "O Sétimo Guardião" tinha uma história melhor e bem mais empolgante e, por isso, decidiu apostar nela com todas as suas fichas, enfrentando tudo e todos.
Aguinaldo Silva decidiu dar uma nova chance à polêmica história do gato Léon, mas fazendo grandes alterações na trama e inserindo novos personagens, visando modificar o máximo possível para que a novela não corresse o risco de ser barrada pelo o Tribunal de Justiça por plágio. Essa, contudo, foi a pior estratégia que ele poderia ter feito.
As grandes modificações na história ficaram em evidência quando a novela estreou. Ao reescrever todos os capítulos, a trama aparentemente, tinha seu certo charme por ter personagens carismáticos e o velho clima nostálgico presente nas tramas de realismo fantástico da década de 90, mas ao longo que a história foi sendo contada, a mesmice e a falta de agilidade fizeram com que, aos poucos, o público fosse afastado ou atraído por outras opções no horário e afundando na audiência cada vez mais. Se sua antecessora, "Segundo Sol", de João Emanuel Carneiro, teve um desenvolvimento bem frio, em "O Sétimo Guardião", o horário esfriou de vez, marcando médias iguais ou pouco superiores desde a novela "A Lei do Amor", em 2016.
Os protagonistas, Gabriel e Luz, interpretados por Bruno Gaggliaso e Marina Ruy Barbosa, respectivamente, não convenceram o telespectador e a grande vilã, Valentina Marsalla, feita pela a brilhante Lília Cabral, acabou por ser uma mulher louca, mecanizada e, por vezes, forçada em suas atitudes e planos para conquistar a tão sonhada fonte de Serro Azul. Nem com um suposto serial killer solto nas ruas da ficticia cidade ajudou a audiência crescer
O telespectador, que acompanhava a novela, assistia os capítulos com vontade de participar da mesma, mas não obteve resposta desse crescimento estimulado. A novela terminou com pífios 28,78 pontos de média geral, o pior no horário desde "Velho Chico". A novela, que tinha um vasto potencial, terminando decepcionando não só os noveleiros de planto, mas o setor de teledramaturgia da Globo e - à contra gosto - o próprio Aguinaldo.
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